Entre a vida que termina e a próxima que começa, há um espaço sagrado de transição
Onde Estamos Quando Já Não Estamos Aqui?
O que acontece no instante depois da morte — mas antes de nascer de novo?
Para o budismo tibetano, esse intervalo existe.
E tem nome: Bardo.
Mais do que um lugar, é um estado. Um entre. Um portal. Uma travessia.
O Bardo é um espaço misterioso, entre o fim de uma vida e o começo da próxima, onde a consciência vaga, se reconhece, se confunde — e, às vezes, desperta.
Neste artigo, vamos mergulhar nesse conceito tão profundo e poético do budismo tibetano, que nos lembra que a morte não é o fim — mas uma chance de reencontro com a essência.
O Que Você Vai Aprender Neste Artigo
✅ O que significa “Bardo” e onde ele se encaixa na filosofia budista
✅ Os diferentes tipos de bardo segundo os textos tibetanos
✅ O que acontece com a consciência durante esse estado
✅ Por que o Bardo é considerado uma oportunidade espiritual
✅ Como viver bem pode preparar para morrer com lucidez
O Que é o Bardo?
No budismo tibetano, “Bardo” significa literalmente:
“estado intermediário” ou “intervalo de transição”.
É o tempo entre a morte de um corpo e o renascimento em outro.
Mas também pode se referir a qualquer momento liminar — aqueles instantes em que algo termina e outra coisa ainda não começou.
No Bardo Thödol (conhecido como O Livro Tibetano dos Mortos), os monges descrevem o Bardo como uma sequência de experiências visuais, emocionais e simbólicas pelas quais a consciência passa após a morte.
Os 6 Bardos da Experiência Humana
Segundo a tradição tibetana, há seis tipos de bardo. Nem todos estão ligados à morte — alguns acontecem enquanto estamos vivos:
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Bardo da Vida (Kyenay Bardo) – do nascimento até a morte
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Bardo do Sonho (Milam Bardo) – estado de sonho durante o sono
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Bardo da Meditação (Samten Bardo) – estados de consciência profunda durante a meditação
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Bardo do Momento da Morte (Chikhai Bardo) – os últimos instantes da vida
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Bardo da Realidade Luminosa (Chönyid Bardo) – logo após a morte, onde surgem visões claras da verdadeira natureza da mente
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Bardo do Devir (Sidpa Bardo) – a preparação para o próximo renascimento
Nos interessa especialmente o Chönyid e o Sidpa, que descrevem o período após a morte física.
O Que Acontece Durante o Bardo Pós-Morte?
Após a morte, segundo o budismo tibetano, a consciência entra no Chönyid Bardo, onde:
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Experiencia luzes intensas, sons e formas (às vezes belas, às vezes assustadoras)
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Enfrenta projeções do próprio inconsciente
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Tem vislumbres da natureza verdadeira da mente, livre do corpo
Se a pessoa treinou a mente em vida, pode reconhecer esse estado como uma oportunidade de libertação.
Caso contrário, segue para o Sidpa Bardo, onde:
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A consciência começa a se agarrar a formas, sensações e identidades
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O karma influencia a “direção” da consciência
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Surge o impulso pelo próximo renascimento, em um novo corpo
O Bardo Como Espelho do Karma e da Mente
No Bardo, tudo é mente.
Não há corpo, não há voz, não há chão — só consciência, flutuando no campo das próprias criações.
E por isso mesmo, é um espelho radical: tudo que você vê ali, veio de você.
✨ Medos tomam forma.
✨ Desejos se tornam visões.
✨ A sabedoria, se treinada, aparece como luz clara e libertadora.
O que determina o que você “vê” no Bardo não é julgamento externo — é a qualidade da sua mente.
O Bardo Não é Um Castigo — É Uma Chance
O mais bonito da visão budista é que o Bardo não é um purgatório.
Ele é uma nova chance. Um espaço de escolha. Uma janela de liberdade.
Segundo os mestres tibetanos, é possível alcançar a iluminação ali mesmo, no pós-morte — caso a consciência esteja suficientemente desperta para reconhecer a realidade como ela é.
Mas para isso acontecer, é preciso treinar ainda em vida.
Com meditação, atenção plena, ética, compaixão — tudo isso fortalece a lucidez no momento da morte.
Como Essa Visão Pode Mudar Nossa Vida Agora?
Saber que o Bardo existe, que a mente continua, que há um espaço entre vidas onde ainda podemos aprender…
… muda a forma como vivemos o hoje.
✨ Você começa a dar menos peso às aparências.
✨ Acha sentido em cultivar silêncio interior.
✨ E entende que morrer bem é um reflexo de ter vivido com consciência.
O Bardo é Uma Travessia — e Também Um Convite
O Bardo é um mistério, sim.
Mas é também um convite à presença.
Ele nos lembra que tudo está em transição — a vida, o corpo, os sentimentos, os ciclos.
E que nesse fluxo constante, a única coisa que podemos fazer é despertar.
Despertar para agora.
Despertar para quem somos.
Despertar para o fato de que, mesmo entre mundos, a consciência sempre carrega sementes.
Que elas floresçam em liberdade.